Minha filha, você não é a única pessoa do mundo!
- Luciana Sarmento Scheiner
- 25 de out. de 2017
- 2 min de leitura
Alice tem uma personalidade forte e decidida. É da natureza dela passar por cima de quem quer que seja pra conseguir o que quer – e isso incluiu mordidas na creche quando era mais nova, comentários maldosos sobre os amigos. Acredito que o meu papel no meio disso tudo é orientá-la e mostrar a ela que não se pode passar por cima das pessoas pra atingir seus objetivos. Sem interferir muito na personalidade dela, mostro que ela tem que ter respeito por toda e qualquer pessoa, seja amigo da escola, pai de amigo da escola, funcionários da escola ou do prédio, entre outros. Ensino a minha filha que ela não é melhor do que ninguém e que vai ter que arrumar um outro meio para atingir seus objetivos, que não seja depreciando os coleguinhas ou se juntando a outras crianças para excluir uma terceira. Meu pior medo é que ela se torne a loura metida da escola – a tal síndrome da Maria Joaquina.

Há um tempo, entretanto, ela se viu na situação oposta. Alguns amigos que antes eram muito grudados nela passaram a excluí-la das atividades e dizer que ela não poderia se juntar a eles. Acho que ver isso aconteceu doeu mais em mim do que nela. Orientei-a a buscar outros amigos, a não dar atenção e até mesmo chamar a atenção de um adulto quando a situação acontecesse. O problema acabou se diluindo, mas senti que dentro dela o sentimento em relação a esses amigos nunca mais foi o mesmo. Coisas da vida. Sei que não foi a primeira vez e nem será a última.
Por outro lado, observo que Alice vem melhorando seu comportamento em relação aos outros. Outro dia, observei ela ajudando uma amiga de quem ela dizia não gostar no início do ano e vejo com muita alegria que essa amizade vem crescendo. Faço questão de deixar muito claro para ela que dentro da família ela é única e especial, mas pro mundo ela é apenas mais uma. Se ela não aprender a tratar os outros como ela gostaria de ser tratada, a vida será bem cruel com ela. Insisto todos os dias em valores como gentileza, sinceridade e lealdade.
Acredito que fechar os olhos para as coisas cruéis que nossos filhos são capazes de fazer quando pequenos, dando desculpas como “ele é assim mesmo, tem espírito de líder, personalidade forte” é ser conivente com uma sociedade desajustada e eximir-se de uma responsabilidade parental que terá graves consequências pro resto da vida das crianças – e de todos que as cercam.
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